MÚSICA CLÁSSICA – começando a ESCALADA

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Fico imaginando o que enxerga um pedestre quando se aproxima da Música Clássica? Algo como a cadeia de montanhas do Himalaia? Repleta de picos e vales deslumbrantes, paredões íngremes e abismos insondáveis, platôs e terraços com vistas esplendorosas? Infelizmente, tudo distante, confuso, inacessível?

Efetivamente este imenso território desconhecido e, aparentemente, inóspito é parte importante do conhecimento humano. Fica fácil concordar com os pitagóricos quando diziam que “tudo é música”, porque, não existe cultura, até a mais rudimentar, que não tenha manifestações musicais. Uma linguagem comum das almas, inata, disponível para qualquer um.

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Se o pedestre for interessado, deve se perguntar como adentrar nessa terra desconhecida e fascinante. Como e por onde começar? Como se familiarizar e não se perder nesse novo mundo? O segredo é o mesmo dos alpinistas mais experimentados: trilha por trilha, rota por rota. O prazer está na própria escalada.

clip_image004A Música Clássica é um continente complexo, porém organizado. Existem diversos esquemas para ajudar a entendê-la. Talvez a forma mais comum de abordagem seja pelas características ou finalidade das peças: Música Sinfônica – para grandes orquestras; Musica de Câmara – para pequenos conjuntos (normalmente até 8 ou 9 componentes); Coral – para conjuntos de vozes humanas; Ópera – para música encenada; Música Sacra, para ´funções religiosas etc.

Cada um desses subgrupos compreende uma vasta variedade de formas, de soluções. Na Música Sinfônica, por exemplo, temos Sinfonias, Concertos para instrumentos solistas, Poemas Sinfônicos, Suítes, por aí vai. N Música de Câmara tem Quartetos de Cordas, Trios de instrumentos em combinações diversas, Sonatas para várias formações etc. Para ilustrar o nível de especialização possível, dentro da Música Sacra reside um segmento bastante peculiar, os ‘Stabat Mater’s. Ou seja, milhares de obras distintas, compostas por diferentes autores ao longo de séculos que utilizam como letra um poema criado no século XIII, presuntivamente, ou o franciscano Jacopone de Todi ou pelo Papa Inocêncio III.

Para Complicar mais, os autores, sobretudo depois de Beethoven, podem misturar tudo lastreados no impactante Quarto Movimento da Nona que introduziu o Coral, nas Sinfonias. As Bachianas Brasileiras, de Villa-Lobos, atravessa todos os gêneros: Música de Câmara, Música Sinfônica e Coral, no mínimo. Cada um desses subgrupos é uma galáxia a parte, ou melhor, uma nova seqüência de picos, segundo nossa acidentada metáfora.

clip_image006Mas como começar a desbravar? Antes de tudo é preciso definir uma rota de escalada, uma trilha de ataque à montanha. Escolher alguma coisa que desperte nossa curiosidade, nosso interesse, que chame nossa atenção, que nos dê prazer. Um compositor, Chopin? Permitirá entender como ele se expressou através dos vários gêneros: Sonatas, Concertos. Músicas para instrumentos solistas… Optar por um instrumento, Oboé? Vamos aprender como acontece o uso desse timbre nos inúmeros gêneros ou períodos históricos. Acompanhar uma forma, Stabat Mater? Descobriremos a quase infinita gama de manifestações possíveis com base numa única idéia geradora.

clip_image007Como no caso do alpinismo, basicamente, o conselho para iniciar a escalada – determinar uma trilha de ataque – é o mesmo para as muitas e repetidas retomadas, a familiaridade vem de experimentar sempre uma nova rota.

No meu caso, desculpem o mau exemplo, piano nunca esteve entre meus instrumentos prediletos (preferia violino, cello e oboé), entretanto, nas minhas audições, acabava sempre trombando com Sonatas, Concertos para Piano, Estudos, enfim peças soberbas, inspiradíssimas e de altíssimo nível técnico. Um dia, por acaso, tive oportunidade de assistir um ensaio na Cultura Artística, inaugurando um novíssimo piano Steinway. Sei lá, o horário vespertino, a sala vazia, o silêncio interessado e solene, a cintilante beleza do som do instrumento invadindo os espaços… Fiquei encantado, apaixonado, fascinado e fissurado. Resolvi experimentar uma nova rota de escalada, cuidadosamente ouvi as 10 Sonatas para Violino e Piano, de Beethoven. Foi uma solução de compromisso, conservadora, juntando o velho e querido violino ao desafiante e refratário piano (Christian Ferras e Pierre Barbizet – indubitavelmente uma das 5 melhores gravações), depois saí alucinado ouvindo e reouvindo concertos para piano, improvisos, o que edesse Logo descobri uma dimensão inimaginada, mas já não tão surpreendente, dentro da minha conhecida montanha.

Texto de autoria do Colaborador Douglas Bock
Também conhecido como “ZpinoZ” ou simplesmente "Z"

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