Introdução
Certo dia recebo um e-mail de um amigo de longa data que tinha guardado há muito tempo um par de tweeters Ribbons usados e gostaria de ter em algum projeto funcionando.
Aparentemente um desafio relativamente simples, mas com pegadinhas bem perigosas, o Ribbon é sempre uma delicia ter acesso, mas uma implementação incorreta, um cross mal feito ou um projeto sem muita atenção e ele vai queimar na primeira audição, como trata-se de um Ribbon usado, pior ainda.
O projeto e construção
A ideia era fazer algo simples de relativo baixo custo, mas de grande performance. Os MIDs escolhi os que uso nas Baubos e já conheço muito bem, fiz apenas alguns ajustes no gabinete, inclusive com novos travamentos e o uso de um baffle duplo de aproximadamente 4cm.
O gabinete ficou uma rocha e super pesado, como acabamento usei Freijó Claro em folha pré-composta. Eu adoro essa folha, que além do belo tom e formato tem uma textura muito interessante para um acabamento final e foi possivelmente um dos meus melhores trabalhos de acabamento.
Tweeter de Ribbon
Lidar com componentes usados não é nada simples, primeiro o receio natural de ter algo relativamente antigo e sendo assim, com riscos inerentes como altíssimo FS, sensibilidade inadequada, curva de respostas imprevisível e etc, onde me tiraria muito da flexibilidade para projetar o cross e obrigaria a criar algo mais complexo para proteger.
Quanto mais alto o corte, mais o mid teria que se esforçar para atender, uma loucura e nem falo de compromissos técnicos como distancia entre componentes ou posicionamento no baffle. Ao receber o tweeter, acabei descobrindo depois de muita pesquisa que era um Pioneer, já que havia uma desconfiança se era algum JVC como usados em Gradientes e etc..
http://parts.pioneerelectronics.com/part.asp?productNum=PT-R01B
Descobri que era originalmente de uma caixa 3 vias com crossover de segunda ordem.. Mas que também foi usado em algumas caixas de duas vias e isso foi bem animador, pois indicava um tweeter com um “aproach” bem atual dentro do que eu planejava
Medições e testes
Parti então para as minhas medições, a montanha inicial eu trataria no cross, o fato de ir a uns 18k não era o ideal mas longe de comprometer, tudo ficou bem mais animador, mostrei isso e uns amigos que tiveram dificuldade em entender e por isso fiz um desenho/marcação no gráfico abaixo e aproveito para deixar tudo mais claro para todos..
Na prática refiz o projeto e os filtros que uso no mid normalmente, passei a usar um Zobel no woofer e depois de muito testar, algo ainda não me agradava… só ficou tudo perfeito quando deixei a parte das altas propositalmente alguns dBs em relação a região média, alterando o Lpad. Ficou um cross relativamente complexo frente ao que sempre costumo fazer, até por se de 3ª ordem.
O resultado
Agora sim, tudo ajustado é uma delicia sem tamanho, o som é cativante, bateria com tweeter de ribbon é covardia.. cada extensão, cada nota parece que se prolonga por usa sala, ali na sua frente… Não oferece qualquer fadiga e tudo soa incrivelmente natural, no meu entender o resultava ficou simplesmente espetacular. Hora de botar roupa de gala.
Na verdade, desenvolver caixas é sempre uma loucura e por vezes fico tenso aqui com esses brinquedos.. adoro fazer, mas é sempre um risco para que toque bem pois cada pessoa tem um tipo de referência, de sala, de forma de escutar, de gênero musical, de eletrônica. Vã em uma sala com 3 amigos quaisquer e possivelmente cada um terá uma percepção bem diferente do mesmo sistema, logo…
Mas o que procuro fazer, é mostrar que de alguma forma faço por puro prazer e paixão, tento colocar em cada detalhe, em cada parafuso um pouco disso, para quem sabe, conseguir transmitir ao menos parte disso no resultado final.
É uma tática que tem dado certo e isso que também me assusta, afinal, sobre um olhar estatístico um dia naturalmente não dará.. hehehehe
Mas ao final, a verdade é uma só, isso vicia e não consigo ficar longe, principalmente quando você recebe um e-mail do novo dono onde demostrar estar super feliz com esse novo brinquedo, mesmo frente a outras caixas bem conhecidas no mercado.
Um brinde ao DIY!!!!
Review do novo dono
Eu tinha trocado minhas ProAc por caixas Sitara e, continuando insatisfeito, comprei as afamadas Phi-7 da Gamut, que ainda não recebi.
Nesse ínterim chegaram as caixas que você construiu, e coloquei-as para funcionar. Confesso meu espanto pelo extraordinário som que ela produziu. Não sei se foi pelo fato de eu ter mudado as Sitara de lugar, ou meus ouvidos se acostumaram imediatamente com as DAD, mas elas tocam muito bem e melhor.
Claro que cada uma tem sua proposta, e tanto as ProAc 140 quanto as Sitara são muito boas. Mas as DAD Nahor (obrigado mais uma vez pela inspiração no batizado delas), têm algo que proporciona maior prazer aos meus ouvidos. O som delas surge de maneira mais ampla, parece mais “encorpado”, e em discos de jazz contemporâneo, por exemplo, dá pra perceber perfeitamente a localização dos instrumentos. O palco é um pouco baixo, mas não atrapalha em nada, pois o prazer de ouvi-las suplanta qualquer deficiência como, por exemplo, alguns agudos ardidos que mesmo assim não causam fadiga auditiva.
A audição de gravações audiófilas, como das Telarc, Audioquest e similares, é viciante. Até gravações ruins, como do selo Kieves, parece que saem “tratados”, com maior extensão e profundidade. Em clássicos, então, nem se fala.
Fico pensando em quanto dinheiro perdi nesses vinte anos trocando de caixas à toa – bastaria ter encontrado você antes e encomendado as caixas, já que os tweeter estavam comigo há mais de três anos.
Bom, é verdade que minha aparelhagem é muito boa, pois o player é o afamado Arcam 23T devidamente turbinado por um pessoal de Santa Catarina, que melhorou o que já era muito bom. O amplificador é um integrado valvulado da “Pathos”, modelo “Logos”, que toca qualquer caixa. Os cabo de caixa são da MIT (MDH 750 se bem me lembro), e o IC, “Lápis” da Audioquest.
Bom, se as Phi-7 se revelarem extraordinariamente melhores que as DAD Nahor, estas irão para o segundo setup, substituindo ELC8 da Rega. Vamos ver.