Amigos,
O texto é bem longo, mas podem acreditar de que vale a pena, trata-se de um exemplo típico do que o amor a arte pode fazer, encarando todas as dificuldades com dignidade, muito estudo e um trabalho insano para poder fazer o que mais gostam…
Torço muito por eles, pois talento possuem de sobra!
Renato,
é isso que eu tenho para contar sobre o disco. 5 amigos que lutam pra fazer da vida musica para as pessoas, obrigado pela oportunidade de compartilhar essa vivência com vocês
Grande abraço e espero quando for ao RJ conhece-lo pessoalmente!
Leonardo Felizardo
Tudo começou bem criança manipulando os vinis do meu pai e descobrindo o mundo da musica, Led Zeppelin, Beatles, Alceu Valença, The Who, Pink Floyd, Clube da Esquina, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano….
Quando adolescente montamos uma banda, amigos de prédio, colégio, irmão. O primeiro microfone era DIY feito com um microfone de eletreto retirado de um brinquedo que adicionava um pitch na voz que estragou, duas pilhas num suporte de um cachorro de pelúcia estragado que antes andava e latia e um cabo espiral do fone que estraguei do meu pai, ah se tivesse uma foto!!! Tudo bem amarrado com fita isolante…. plugava num vintage da gradiente e la estava….
O tempo passou e a banda cresceu, profissionalizou, gravamos 2 cds em estúdios referencias em BH (o segundo sendo AAD em fita 2polegadas), fomos do interior, Gov.Valadares para Belo horizonte, depois pra São Paulo, lançar o segundo cd, onde puder estudar no OMID todas as cadeias da produção musical, acústica e elétrica aplicada ao áudio e ter contato com a megapole que Sampa é.
Estando em SP conheci o HTForum e algumas obras que Renato, Nabuco, Ricardo Pereira e Tony faziam e o DIY voltou a ativa. Fiz uma caixa em LT onde tive a primeira sensação real em casa de um palco sonoro (antes so no fone ou em estúdios como o do OMID).
Morávamos nos 5 da banda em uma republica na Teodoro Sampaio e lógico que todos maravilharam com o palco disponível daquela LT ligada a um mero TAMP de 35 dolares.
Dali saíram amplificador de guitarra DIY montado a partir de um giannini 68 pelas mãos do meu irmão e guitarrista Gustavo Felizardo, um amp tda7294 que fiz em conjunto com ele, pedais, cabos, caixas, retornos
…
Bons tempos em SP, show no na Mata Cafe, O’malleys, turne pelo Sul, Floripa, Porto Alegre, Curitiba!
Mas as coisas não estavam caminhando muito bem assim, SP cobra o preço de um forasteiro em suas ruas e as primeiras canções do nosso terceiro álbum começaram a nascer num tom de inquietude e questionamento e o álbum que fomos lançar em sp estava ja saturando nossos ouvidos, não acreditávamos mais nele.
Precisávamos de material novo.O disco foi nascendo junto a um ideal, fazer um trabalho em casa totalmente DIY com um contexto de álbum como um todo.
A grana estava pouca, mas o tempo nos tínhamos a nosso favor.
O mundo girou e fomos nos abrigar em Nova Lima MG onde
conseguimos uma casa ótima perto da mata do Jambreiro e fomos para la. Agora começava o desafio, uma banda montar seu local de trabalho.
A casa no começo tinha uma sala de vô como disse meu primo, com tv, som e sofa, Ao lado uma sala que usamos pra montar nosso cantinho de ensaio, construimos uma separação tipo sanduíche de mdf, la de rocha e dupla porta, tampamos a janela com sacos de areia, ao lado montamos um escritório e la pra dentro os quartos da galera.
Morávamos nos 5 da banda e um amigo. Aquele tempo ali próximo aquelas matas, com um quintal gigante, um espaço nos fundos que viraria uma oficina pro DIY foi gestando um sonho em forma de musica, idealizava dentro de cada um o que seria Liberdade.
O disco nasceu pra ser uma obra com contexto único com inicio meio e fim e é autobiográfico nas suas letras e mensagens, precisou ser vivido pra ser registrado, o que nao foi muito cômodo para nos, mas era desafiador!
Pra quem curti DIY o DESAFIO é uma gasolina, uma combustível que leva as loucuras. Basta ver as caixas dos DYERS que tem por ai…..
A sala que antes era de vó foi desmontada, daria lugar a nossa sala de captação, o nosso cantinho de ensaio seria nossa técnica de monitoração.
O equipamento que tínhamos era modesto mas faria possível junto ao conhecimento e a força de vontade gravar nosso disco.
Meus amigos acharam que eu deveria assumir a produção do disco pela visão que tinha do álbum e depositaram essa confiança em mim.
Começava assim o LIBERDADE.
Gustavo Felizardo: Meu irmão de sangue, nasceu em 1981, fanatico por Gibson Les Paul e amplificador valvulado, tambem toca slide e quase nao usa palhetas por tocar com uma estilo meio estalado acho que vem do country e ‘e fa do Jeff Beck, Keith Richards e Jimmi Page. Alem de tocar guitarra ‘e artista plastico e DIYER.
Fernando Persiano: Baixista, vizinho do prédio na infancia e adolescˆencia, fa dos Beatles e especialmente de Paul McCartney. Possui uma capacidade de transformar sua realidade em musica atraves de suas composições. Tambem é fascinado pela MPB de Tom e Vinicius e curte os som dos Tropicalistas. Costumava ficar pela casa rodando com seu violao de nylon colorindo o ambiente.
Paulinho Rodriguez: Autodidata nos pianos, organs, violões e gaitas. Nos discos anteriores havia deixado seu talento com as teclas de lado e dedicava somente aos vocais. Tambem é compositor de varias musicas nesse trabalho entre elas “Aquele Menino”.
Berna Dias: Guitarrista e violonista, Amante de Telecasters e Sgs ligadas em valvulados e violões de aço.Tem influência das musicas que seu avo tocava no violão quando crianca, samba canção e outras musicas de raiz.
Eu, Leonardo Felizardo: Baterista, produtor musical e DIYER, fascinado por tudo que sai som, influenciado principalmente por rock Classico. Alem de tocar bateria cuido da parte sonora da banda. Herdei a paixão pelas ferramentas e DIY do meu avô, quando criança era chegar na casa dele e ia direto pra gaveta de ferramentas. Eu sempre vi ele fuçando as coisas, arrumando as mobiletes dos meus primos em Araruama RJ onde passava ferias, inventando alguma coisa.
Primeira coisa a se fazer foram os painéis , difusores e absorveres para se usar na sala técnica e na captação.
Comprei uma tupia, ja tinha furadeira, meu irmão comprou uma lixadeira e fomos pro mãos a obra! Muita poeira de mdf rolou com os painéis, compensados pela eficiência no estúdio que proporcionaram.
E nesse tempo muita leitura no Htforum, Diyaudio, Solon, Edu Silva com o AudioList etc… Conhecia nesse tempo personalidades virtuais geniais que compartilhavam o conhecimento sem pedir nada em troca, espero conhece-los pessoalmente.
É interessante pra quem esta do lado de ca em uma produção musical pode aprender com quem esta no lado de la, ouvindo seu setup em sua casa, as vezes é ate conflitante.
O que esperar do ouvinte? E o que se espera de um produtor? Será que o que um produtor quer que o ouvinte escute é o que esta escutando na master do estúdio saindo dos monitores? Busca Realidade sonora? Som Lisergico? Interpretações?? Como será que isso pode sair em uma Sonus Faber, Kef, B&W, DAD Sublimes em suas respectivas moradias com cabos, acústicas, prés e powers diferentes??? Dilemas!!! ???
Eu tive que me libertar disso e apenas fazer!
Minha sala de captação era viva e morta, viva de um lado e morta de outro, tudo que gravava ali tinha seu equilíbrio no posicionamento, era como se tivesse nas mãos um controle de presença ou brilho, seco ou vivo, bastava posicionar o instrumento no lugar certo pra ocasião.
A técnica pequena apresentava tudo que uma sala pequena apresenta, graves embolados e não foi fácil me livrar deles, mas ficou aceitável.
Equipamento que tínhamos as mãos:
Interface motu 828 que gravava aprox. 30 canais ao mesmo tempo, mesa 01v96v2 da yamaha que tinha prés-decentes e como era digital, alem de puxar os 8 canais direct out eu ainda pegava mais 4 via adat em 88Khz.
Construímos um multicabo 20 vias cabo santo angelo e conectares amphenol para comunicar a técnica com a captação.
Tinhamos microfones shure sm58, clone de sm57 da superlux, Rode k2 valvulado e NT2A que achei ótimos, beyer dynamic opus 99, pra 638 e um par de smkh8k, ambos superluz condensadores, shure classic 55h, akg elle, pre focusrite Isa One, monitores da yamaha mp5a, 3 pares de caixa diy (LT, base refles, e uma line) pra testar o som de cliente.
Outra questão que ja tinha tido contato com o curso e que pude aprender ainda mais no htforum foi a ELETRICA, obrigado ao Sr Jorge Knirsh pela troca de mails iluminadores. Como a elétrica melhora o som.
Nessa casa que alugávamos, a elétrica era antiga e meio gambiarrada, mas chegavam três fase no nosso padrão e ate ali a elétrica estava perfeita.
Duas eram usadas pela casa e sobrava uma. Com a finalidade de ter uma elétrica que pudesse levar pra onde quiséssemos dentro da casa foi construído um plug de saída de onde partia um cabo com Fase, Neutro e Terra em fio rígido de 4mm e chegava ate a caixa portátil com Proteção de raio, disjuntores e distribuição de energia para os equipamentos em 5 pernas.
O cuidado era não passar cabo de elétrica perto de cabo de sinal de som, se cruzassem teria que ser sempre 90 graus e nunca paralelos, assim evitava que o ruído contaminaste.
Como todo o álbum foi gravado desde a pré-produção, era possível comparar o que era gravado antes e depois da linha elétrica dedicada. Bem, nem preciso dizer que não da pra comparar…..
Um detalhe que vale a pena ressaltar é a arte do disco que foi toda feita em cima de pintura em tela e desenvolvida em conjunto com o disco pelo guitarrista Gustavo Felizardo que também é artista plastico http://gustavofelizardo.blogspot.com/ as pinturas originaram através de fotos a arte do disco no mundo virtual.
Os instrumentos usados foram:
Baixo fender jazz bass precision 1977:
Guitarras Gibson les paul deluxe goldtop 1976, Gibson les paul standart 1991, Gibson SG standart 2009 se nao me engano,
Telecaster Acrilico DIY feita pelo guitarrista Loro (corpo e concepção) e uma amigo luthier Sanzio (Kian guitars, banda Calix BH, Braço e acabamento):
Violões aço e nylon Martin, Cort 12 cordas, Dgiorgio, Condor e Eagle (que diferenças hehehhe)
Guitarra Telecaster Tagima copia fender 1952 nacional de tirar o chapeu!:
Controlador mid maudio e Cme,
Bumbos Odery 24″x14″, Pearl Session 22×16″ e Grooving 20 x 16″ (evans e remo porosas dupla face e remo controlled sound, todos tambores)
tons Odery 12x 08″e 14×12″ Pearl Session 10×10″, 12x 10″, 14 x12″ e 16×14″ grooving 12×13″
Caixa: Pearl Session Steel mod com esteira dupla e aros diecast.
Pratos: chimbal: Sabian HH Regular hats 14″ crash 18″ HHX Manhathan Jazz, Ride 22 Rock Ride Bosphorus Classic ride usado como 2 crash Sabian HHX Evolution Dave Weckl de 20″
Amplificadores: Peavey Classic 410, combo valvulado 50rms 12ax7/El84; fender HotRod Deville 410, valvulado 60w rms 12ax7/6L6, Hartkey System HA5000 e caixa XL410, gabinete DIY Maverick com 2 de 12″ Selenium; alto falante solto eminence 10″; gianinni thundersound II1968 customizado
Pedais: Overdrive Carl Martin PlexiTone, MXR Phase 90, Electro Harmonix Deluxe Memory Man, MXR BassOctave, Dunlop Talk Box, Line6 FM4 e Fuzz Handmade Beggiato, TubeScreamm Ts10 da ibanez, Ocd drive da Fulltone, talk Box da Dunlop
Harmonica Hohner proharp, percurssões LP panderola e marracas
Software Logic 9 e Waveburner em um Macbook Pro
Tem muitas técnicas diferentes de microfonação nesse disco, mescla de captação de acento, ambiente, estéreo XY, binaural, ms etc
Os plugins escolhidos foram mínimos e básicos, equalizadores, compressores e limiters alterando minimamente no som gravado.
Os órgãos, ja que vinham de instrumentos virtuais eu optei por gravar usando uma técnica de reamplificação, o sinal gravado do plugin de instrumento virtual, como um b3 hammond ou um fender rhodes mkII eram amplificados em stereo pelos amplificadores de guitarra e microfonados ficando com um som mais “legal” alem de poder contar com a ambiência da sala.
Esse álbum foi feito com muita dedicação e espirito DIY.
Estará todo disponível pra download no www.vitrolas.com.br onde poderá ser vista a arte, letras e informações sobre o disco.
Em breve também existirá a versão física do cd, estamos esperando patrocinador.
Algumas fotos: