Entrevista com João Yazbek

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O João é um amigo de longa data, Engenheiro de comprovada competência, projetista e dono da empresa J. YAZBEK INDÚSTRIA ELETRÔNICA (http://www.jyazbek.com.br/) que entre outras coisas, desenvolve uma formidável linha de produtos para áudio residencial, vale uma conferida.

1 – Quando começou esse gosto por eletrônica?

O gosto pela eletrônica começou lá pelos 8 anos de idade, quando a Philips lançou o brinquedo Engenheiro Eletrônico Philips (vejam abaixo). Era um verdadeiro curso de eletrônica analógica através de um brinquedo educativo. Depois disso, o interesse sempre cresceu, o que me levou a fazer o curso de engenharia eletrônica e logo após um mestrado na mesma área. Na época da faculdade, montei meu primeiro amplificador de alta potência. Enquanto todo mundo usava os 2N3055 no estágio de saída, com seus 60V de VCE,  eu utilizava o 2N3773 com 140V de VCE o que possibilitava obter potências bem maiores dos amplificadores. Esse que montei tinha 200W RMS/canal em 4 ohms, foi montado em uma caixa padrão rack utilizada em telecomunicações e deve estar ainda hoje em algum lugar de minha casa. Ainda na época  da faculdade, por absoluta coincidência, comecei a trabalhar na Philips Vídeo, que depois se juntou com a parte de áudio. A união dos departamentos de desenvolvimento foi importante para mim, pois aí comecei a trabalhar um pouco com áudio, apesar de que minha área de atuação principal era no desenvolvimento de produtos vídeo.  

EngEletr

2 – Para muitos, o Brasil já teve um período de ouro no áudio residencial, época de Gradiente, Tarkus, Quasar, Polivox, Novik e outras tantos. Seria utopia imaginar o renascimento de algo próximo a isso novamente?

Acredito que essa época de ouro do áudio não deva voltar por um simples motivo: naquela época o áudio residencial era o que de melhor a tecnologia disponível poderia oferecer para entretenimento. As TV´s tinham severas restrições de tamanho de tela até meados da década de 80, quando surgiram os primeiros TV´s de 29”. Os computadores eram restritos aos ambientes corporativos ou estavam disponíveis no mercado mais como curiosidade do que como aplicações sérias. O videocassette nessa época ainda engatinhava.Aparelhos portáteis, somente o Walkman da Sony e seus similares. Sobrou como opção disponível os equipamentos de áudio residencial, que tinham performance muito boa para a tecnologia da época. Aliado a isso, tivemos o fenômeno “disco”, que popularizou a compra de tais equipamentos para se escutar em casa. De lá para cá tudo mudou, surgiram tecnologias disruptivas como o iPod e a transmissão e download de músicas pela Internet e com isso os hábitos e a indústria mudaram radicalmente. A reprodução de áudio doméstico com qualidade se tornou um mercado de nicho, onde os consumidores são em menor quantidade. Com isso o renascimento de uma época de ouro ( ou similar) é muito pouco provável senão impossível. O áudio doméstico continuará sendo um mercado de nicho, a não que surja algum paradigma novo no mercado que mude tudo novamente. 


3 – Sua empresa é relativamente nova, como é ter uma linha de produção regular de produtos eletrônicos no Brasil?

Como tudo no Brasil, nada fácil.  Existem amigos e ex-colegas de trabalho que falaram que eu era louco. E hoje vejo que eles tem alguma razão. As dificuldades para trabalhar nesse país são grandes, e são principalmente gerados pela  alta carga tributária, pela falta de mão de obra qualificada, a ausência de componentes de qualidade e também de fornecedores de qualidade. Mas estamos já há mais de 5 anos no mercado, e crescendo de forma contínua e sustentada, ano a ano. Se não houvessem tais entraves,  com certeza a situação seria mais favorável e estaríamos maiores ainda. 


4 – Seus amplificadores tem recebido uma aprovação espantosa pelo que apresentam em face ao que custam? Qual o milagre?

Não há milagre. Qualquer amplificador com um projeto bem feito vai tocar bem. O problema é que existem produtos não tão bem executados no mercado. Num mercado onde é fácil copiar, ajustar um amplificador ao melhor resultado pode parecer perda de tempo e ainda requer um bom conhecimento multidisciplinar de eletrônica, e não somente de áudio. Saber qual a função e como calcular  cada componente, e onde podemos utilizar um componente comum e onde devemos utilizar um componente mais refinado, é que mantém os custos sob controle e a performance num nível altíssimo. Adicionalmente, para manter o custo baixo, compramos materiais somente em distribuidores que fornecem à indústria. No caso de material importado, nós mesmos fazemos a importação, muitas vezes aproveitando importações regulares de componentes de outros setores de nossa empresa. Isso faz com que o custo seja menor, a qualidade melhor, pois utilizamos componentes de procedência conhecida, que, aliados a um projeto cuidadoso, resulta no que temos tido de aprovação

5 – Temos uma imprensa especializada relativamente pequena e mal vista por muitos leitores.  No seu entender, ajudam ou atrapalham o mercado?

A imprensa especializada sempre ajuda o consumidor. A função da imprensa é informar e o leitor é quem deve tirar suas conclusões. Para isso, as revistas devem fornecer informação consistente e fundamentada. Por sinal, é isso que estou fazendo na Revista Audio e Video Design e Automação, disponível nas bancas, onde estou com uma coluna informativa sobre áudio. A idéia da coluna é informar o leitor de forma isenta e fundamentada sobre o que deve ser levado em consideração na hora de comprar ou fazer um upgrade no sistema. A coluna se inicia na edição número 88 da revista, já nas bancas.  O assunto da coluna é muito interessante  para quem está lendo essas linhas.

6 – Quais são as principais diferenças, ou objetivos distintos, entre a amplificação para áudio residencial e a amplificação para carros?

A amplificação para áudio residencial e o áudio automotivo são bastante diferentes. No nosso caso, ofertamos produtos de áudio residencial de alta performance, para um consumidor crítico, que tem prazer em ouvir músicas com qualidade. Temos também um produto destinado ao uso profissional, em instalações de som ambiente, que está sendo consumido por instaladores do Brasil inteiro, que foi em certa época comparado com os equivalentes importados por um distribuidor daqui de São Paulo  e recebemos a grata notícia de que nosso produto, apesar de ser para uso Pro e ter uma concepção pensando em custo, superou com margem o produto importado de grife. No caso do áudio automotivo, estamos atuando com produtos de melhor qualidade sonora, com a tecnologia mais atual disponível em amplificação classe D, voltado  para o som de qualidade e não para o chamado “pancadão”. Mais isso não significa que eles não sejam potentes. Fornecemos produtos potentes e que tem qualidade sonora.  Mas o  mercado de áudio automotivo é dominado por produtos de performance sofrível para fazer barulho a um custo baixíssimo. Esse não é nosso objetivo, e estamos nos firmando no segmento automotivo pela qualidade e confiabilidade. Nossos módulos são à prova de instalações erradas, como pode ser visto em um vídeo disponível em nosso site e também no You Tube.  

7 –Quais são as premissas que nortearam a criação da linha AAT?

A Advanced Audio Technologies dedica-se ao mercado de Home Audio e Pro Audio. Uma característica comum aos produtos AAT é que, independentemente da finalidade profissional ou doméstica do produto, todos compartilham as mesmas técnicas consagradas de projeto, com a qualidade que já é conhecida como uma das melhores disponíveis no mercado nacional e que se equipara ou supera produtos importados de topo de linha.

Nossos produtos são projetados e fabricados seguindo as melhores práticas da indústria. Os projetos utilizam o que existe de mais moderno em termos de tecnologia, e a realização do produto utiliza componentes de alta qualidade somente onde for estritamente necessário, pois os projetos são validados em suas características-alvo de performance antes de entrarem em produção. Além disso, todas as placas eletrônicas são soldadas em máquina, e dessa forma obtemos economia de escala, que se reflete diretamente nos preços, que são menores do que a concorrência. Com isso, estamos atendendo a um público exigente, mas que não está disposto a pagar o preço elevado de alguns produtos concorrentes, inclusive importados. E oferecemos vantagens significativas que estes últimos em relação à garantia, suporte e manutenção.

Alguns exemplos da excelência de nossos projetos: topologias extremamente modernas implementadas em placas de fibra de vidro dupla-face com furos metalizados feitas em CAD (Computer Aided Design) de uso profissional, cujo projeto leva em consideração requisitos de compatibilidade eletromagnética para minimizar o ruído e distorção, fontes de alimentação com configuração “cascade low-noise”, uso de componentes “premium” somente em posições que justifiquem seu uso, semicondutores selecionados individualmente e casados, transistores de potência do tipo “sustained beta”, uso de trimpots de precisão do tipo “militar grade”, transformadores toroidais projetados internamente e manufaturados sob encomenda.

8 – E quais são as premissas da linha Y2 Audio?

A Y2 Audio foi criada para diferenciar os produtos áudio para uso automotivo daqueles destinados ao mercado profissional e doméstico, tendo em vista que as exigências dos mercados são diferentes. No caso dos produtos Y2 audio, nossa filosofia é criar produtos diferenciados de excelente performance, porém atendendo às exigências específicas  desse consumidor em relação ao custo/performance dos produtos. Nossos produtos tem custo competitivo quando comparados com os concorrentes, e possuem tecnologias como a tecnologia de amplificação classe D com ZDTS (Zero Dead Time Switching), da tecnologia APMS (Advanced Protection Management System), e da tecnologia DABS (Dual Amplifier Bridging System), que são todas exclusivas da Y2 Audio.

9 – O que você mais sente falta aqui no Brasil em termos de componentes necessários para a construção dos seus produtos quando comparado com a oferta existente lá fora?

De tudo. O mercado nacional só tem disponível o “feijão com arroz”. Precisamos importar grande parte do material que utilizamos, seja em áudio ou na nossa área de automação.

10 – Temos hoje em dia condições de promover uma feira de áudio de alto nível apenas com fabricantes nacionais?  Se sim, na sua visão, por quê isso não acontece?

Acredito que precisamos de mais massa crítica para que isso ocorra. Isso significa mais consumidores informados e mais fabricantes estabelecidos para que possamos ter uma feira de bom tamanho e público exclusivamente com fabricantes nacionais.Espero que isso ainda ocorra.


Gostaria de fazer uma menção especial ao amigo André Lessa que com sua inestimável ajuda me possibilitou a criação e publicação dessa entrevista. Estou dando essa “puxada” (heheh) para ver se ele veste a camisa e tentamos finalmente manter pelo menos uma entrevista nova por mês com alguma personalidade “que faz acontecer” no Brasil.